30/03/2007


Não sei qual é o grau de interesse do público desse blog com relação ao barulho. Acredito que seja pequeno, visto a quantidade de discos de música pop que (amo e) coloco por aqui sempre que posso. Mas vou contar uma história. Quando tinha uns quinze anos, na pequena cidade de Uberaba, onde nasci e cresci, um disco de uma banda chamada Mr. Bungle caiu nas minhas mãos. A primeira vez que o ouvi, no som grande e velho da sala, minha vida mudou pra sempre. Eu já gostava do Faith No More, mas quando eu ouvi aquelas dez músicas barulhentas, com o Mike Patton cantando e berrando coisas absurdas somadas a um milhão de acontecimentos ao mesmo tempo, aquilo simplesmente virou minha cabeça do avesso.

A faixa "The Girls of Porn" tinha um saxofone maravilhoso. Lendo as informações do disco, descobri que um tal de John Zorn havia tocado o belo saxofone e, além disso, produzido o álbum. Pouco tempo depois fui conhecer quem, de fato, era John Zorn. Compositor brilhante com mais de 30 discos lançados, Zorn é um verdadeiro gênio. Sua música passa pelos mais diversos terrenos: jazz avant-garde, punk, world music e, claro, o noise. Zorn também é um fã de trilhas sonoras, tendo lançado o ótimo The Big Gundown, interpretando canções do mestre Ennio Morricone.

Ele também é responsável por um dos discos mais incríveis de todos os tempos, o Naked City, de 1990. Poderia passar horas e horas falando dele e do quão genial ele é, mas na verdade estou aqui pra falar de seu novo álbum, Six Litanies for Heliogabalus, e do quanto eu estou impressionado com ele. O novo trabalha conta com seis temas instrumentais, apesar da participação vocal do Mike Patton em todas as faixas. E por que instrumental? Porque o Patton usa a voz como um poderoso instrumento. Muito mais que uma cantoria bacana, ouvimos berros atrás de berros, timbres agudos que entram no seu cérebro violentamente, assim como a temida maquininha do dentista atrás daquelas cáries malditas.

Não dá pra deixar de lado a também absurda participação do baixista Trevor Dunn, que fez parte do Mr. Bungle e hoje é do Fantômas. Linhas de baixo sensacionais e extremamente inspirantes, é com grande certeza que digo que há poucos baixistas hoje em dia tão bons quanto Dunn. Destaque também para o pequeno coro feminino em algumas faixas, colaborando também para a genialidade da obra como um todo. Arrisco ainda a dizer que esse é um dos discos do ano, pelo menos pra mim. Six Litanis lembra os bons tempos e as melhores características do segundo do Mr. Bungle, o Disco Volante. E, por ter crescido ouvindo essa barulheira toda, não consigo ignorar um lançamento brilhante como esse. Baixa agora.