29/03/2007


28/03

The Evens
SESC Vila Mariana - São Paulo / SP

É difícil falar sobre um ídolo. A coisa fica ainda mais difícil quando esse ídolo representa um monte de coisas para uma geração inteira, com significados que estão além do campo musical e os quais não quero nem falar sobre. Mas, por mim, tudo bem. Vamos deixar isso de lado e seguir em frente.

Eram por volta das 21 horas de ontem, no SESC Vila Mariana, quando uma das pessoas mais importantes no que diz respeito ao punk e à música independente atravessou a cortina que separa o palco do backstage: Ian MacKaye, integrante do Fugazi e de bandas como Minor Threat, Teen Idles e Embrace. A seu lado estava sua esposa, Amy Farina. Juntos eles são o Evens.

Grande parte do público estava ali muito mais por se tratar de Ian MacKaye do que qualquer outra coisa. Mas tenho certeza de que os que pouco conheciam (ou não conheciam) o Evens ficaram boquiabertos. Em pouco mais de uma hora e meia de show, a dupla apresentou um apanhado de canções de seus dois álbuns, The Evens e Get Evens, com extrema competência.

Preciso dizer que gosto muito de ambos os discos, independente de ser ou não a banda do cara do Fugazi. Me agrada a simplicidade, as letras e melodias, os timbres. Qualidades que, ao meu ver, são amplificadas ao vivo. Felizmente o som estava ótimo, tudo nos conformes. E, como eu esperava, o timbre da guitarra barítona de Ian é impressionante, assim como a voz de Amy. Com um poderoso timbre vocal, a esposa de Ian mostrou que é, de fato, 50% do Evens. Suas baterias simples e criativas carregavam um reverb confuso – e proposital, vale dizer -, ajudando a tornar o espetáculo ainda melhor.

Simpático e muito bem humorado, Ian derrubou qualquer mito de que é um sujeito ranzinza e chato, como muito achavam. Pelo contrário, o músico esbanjou humildade e proximidade com o público, fez belos discursos entre as músicas – alguns deles de arrepiar – e pediu pra todo mundo cantar e assobiar, sempre sorrindo e brincando. Me senti sentado no sofá de casa, em um dia leve e agradável, apesar do calor que fazia lá fora. O mesmo controle que Ian tem sobre o público também transparece em sua guitarra. O músico utiliza a força exata nos momentos certos, esbanjando a experiência de quem tem 45 anos de idade e, pelo menos, 30 deles de música.

Num tempo moderno repleto de gente blasé e de bandas que se acham importantes demais, ver o Evens em São Paulo foi como lavar a alma. Foi como voltar ao princípio de tudo sem deixar de olhar pra frente. Pra fechar o post, coloco pra baixar um dos primeiros discos do Fugazi, o 13 Songs, uma obra-prima que dispensa apresentação.