13/11/2007

FIN.

WEAREDISABLED.

Após um monte de mentiras, exageros, sensacionalismos, sentimentalismos baratos e muita coisa sem sentido algum, o Polaroid Rainbow chega ao fim. Claro que a regra aqui é a de que o fim de uma era deve dar lugar ao início de uma outra, (nem) sempre melhor, mais bonita e interessante. Portanto aí vai:


Isso é só o comecinho. De um monte de outras coisas. Às quais não vou contar agora. Vamos dominar o mundo, Denem (Itsafever) e eu. Na verdade, não. Só vamos escrever, com um pouco mais de seriedade e comprometimento. Bom, isso também não é verdade. We are disabled, sabemos dos nossos limites.

08/11/2007

Bodies of Water

Hoje eu vou falar de um dos discos mais interessantes de 2007. Embora ele já tenha sido postado essa semana no blog do Maurício, preciso escrever algumas palavras sobre Ears Will Pop & Eyes Will Blink. O Bodies of Water é um quarteto norte-americano que faz um som meio... bom, eu tentei pensar em algo pra colocar aqui, mas não consigo descrever o som deles sem soar demasiadamente injusto. Dizem que parece o Arcade Fire, e talvez até tenha algo a ver, mas o Bodies of Water tem melodias muito mais quebradas que os canadenses. A comparação seria, então, injusta.

No meu caso, consigo enxergar algo de Half-Handed Cloud nas canções da banda. Por acaso – e só por acaso – ambos fazem parte daquele grupo de indies cristãos que existe por aí. Mas novamente eu seria injusto, uma vez que a complexidade das músicas de Ears Will Pop & Eyes Will Blink supera as composições simples e lo-fi do Half-Handed Cloud. De qualquer maneira, essa banda é certamente uma das surpresas pra lá de agradáveis em 2007.

Os vocais são uma das coisas que mais impressionam logo de cara. Afinadas até o talo, as vozes – femininas e masculinas – sobem até o último grau do agudo e, no mesmo segundo, descem de novo para o grave sem qualquer dificuldade (colocar aqui a comparação com o The Mamas & The Papas). Como um verdadeiro coro de igreja deveria ser. Digo mais: se cada cristão fizesse uma banda como o Bodies of Water (ou como o Danielson, Half-Handed Cloud e Sufjan Stevens), provavelmente hoje em dia o mundo seria um lugar bem melhor.

Mas chega de baboseira. Enrolei bastante para que você fique de saco cheio e baixe logo o álbum. Inspiração e sinceridade são características raras no dias de hoje, e posso afirmar que Ears Will Pop & Eyes Will Blink pode oferecer ambas de sobra para seus dias de tédio movidos a café.

05/11/2007

Exit


Fico enferrujado e sem vontade de escrever quando passo muitos e muitos dias sem postar. Felizmente o disco novo do Shugo Tokumaru veio pra acabar com esse desânimo. Como sempre digo, os japoneses têm “o dom”. Nos videogames, no design, na comida... enfim, quando querem fazer algo direito eles simplesmente fazem. Na música não é diferente.

Exit é um disco essencialmente pop. As melodias parecem simples e, de fato, o são, mas também têm elementos tortos e um tanto quanto incomuns. Não dá pra negar também a influência dos Beatles, visível – ou audível – em algumas faixas. O melhor de tudo é que a ótica japonesa de fazer música é sempre mais interessante, pelo menos pra mim. Eles sempre soam muito honestos em tudo o que fazem.

Uma das poucas informações que sei sobre Shugo Tokumaru é que ele sabe tocar mais de 100 instrumentos. E mesmo com toda essa sabedoria, quando ouço Exit noto que ele é um sujeito contido, que sabe muito bem o que usar e quando usar. Outro ponto positivo (pelo menos pra mim e pra alguma meia dúzia de nerds por aí) é que, em diversos momentos, suas músicas me lembraram a trilha sonora do jogo de PlayStation 2 Katamari Damacy, que postei aqui no Natal do ano passado. Talvez seja exagero ou só uma dor de cabeça passageira, mas há tempos eu não ouvia algo tão bom quanto Exit.

25/10/2007

O projeto do polvo


Conheci o Octopus Project, banda de Austin, no Texas, graças ao disco que gravaram junto com o Black Moth Super Rainbow no ano passado, The House of Apples and Eyeballs. Neste ano, saiu o excelente e esquizofrênico Dandelion Gum (que já foi postado aqui), do Black Moth. Agora é a vez do Octopus Project, que acaba de lançar Hello, Avalanche, o terceiro de sua discografia.

Antes do split das bandas, confesso que nunca tinha ouvido o trabalho individual de cada uma delas. Por isso, posso dizer que Hello, Avalanche veio tapar o buraco que faltava na minha cabeça. Ouvindo o novo álbum do agora quarteto, fica bem claro que o Octopus Project tem um som muito mais “calmo” e um pouco mais focado que o Black Moth Super Rainbow, que é mais psicodélico e confuso, atirando pra todo lado.

Hello, Avalanche é um álbum instrumental (com exceção da faixa “Queen”) com diversos elementos eletrônicos e muito agradável aos ouvidos. É perfeito para aquela tarde de trabalho em que você precisa se concentrar. Ou para aqueles dias de chuva e trânsito nos quais sua cabeça está explodindo, mas você necessita do transporte público para voltar pra casa.

O novo disco do Octopus Project é recomendado para todos aqueles que gostam de música de videogame, Ratatat, nuvens e algodão-doce. Hello, Avalanche caiu como uma luva, principalmente em uma semana chuvosa e estranha com essa.

23/10/2007

Hunting heads

Deveríamos ficar preocupados se já encontramos o amor supremo? Deixando o trocadilho de lado, hoje é um dia triste pra música. O Oink (procura aí no Google) acabou. Prenderam o sujeito que começou com tudo – um nerd de 24 anos que trabalhava com tecnologia. Não quero entrar na discussão do que é certo ou errado, mas pelo menos eu estou de luto.

Por isso resolvi postar dois álbuns aqui: A Love Supreme, do John Coltrane, e Head Hunters, do Herbie Hancock. Não sei qual a relação desses álbuns com o fim do Oink. A princípio não tem nada ver. Mas pode ter tudo a ver, é só observar seus títulos e fazer a relação que a sua cabeça mandar.

John Coltrane - A Love Supreme

A Love Supreme (1965) tem apenas quatro faixas (que são, na verdade, quatro temas: “Aknowledgement”, “Resolution”, “Pursuance” e “Psalm”), todas com mais de sete minutos. E, apesar da capa em preto e branco, este é um álbum repleto de cores vibrantes, quase infinitas. É jazz à frente de seu tempo, difícil num primeiro momento, inovador e abrangente em outro. Dizem que o improviso típico de A Love Supreme influenciou todo mundo mais tarde, artistas inclusive de outros gêneros, como o rock.

Herbie Hancock - Head Hunters

Herbie Hancock é tido como um dos revolucionários do jazz, por misturar diversas sonoridades (rock, funk) e criar um som totalmente inovador pra época. Ainda para os padrões de hoje, Head Hunters (1973) continua sendo um disco extraordinário, e ouvi-lo é sempre uma experiência sensacional. “Chameleon”, faixa de abertura, tem efeito rejuvenesceste: fico um ano mais jovem cada vez que a ouço.

Os dois álbuns se relacionam de uma maneira muito simples na minha cabeça: costumam abrir a cabeça e ampliar horizontes de muita gente que dá atenção a eles. O que me faz questionar um monte de coisas. Será mesmo que o compartilhamento de música nos chamados P2P tem a ver com a queda nas vendas de discos? Será que, daqui alguns anos, ele será liberado? Quem baixa, compra? E quem compra, baixa? São a mesma pessoa? Não sei. Acho que ainda preciso ampliar meus horizontes e abrir minha cabeça da melhor forma possível para responder essas perguntas.

Vale a pena:


Herbie Hancock - "Chameleon" (ao vivo em Chicago, 1974)

18/10/2007

Very supersticious!

Às vezes, quando ouço Stevie Wonder, dá vontade de desistir de muita coisa nessa vida. Dá vontade de parar de ouvir um monte de discos que parecem bons a princípio. Quando vejo o alcance da voz e a facilidade com que ele canta e toca, centenas de bandas soam falsas e sem sentido. Não sei explicar. É só um sentimento.

"Superstition", do álbum Talking Book (1972), é uma das melhores músicas de todos os tempos, portanto não deixe de assistir ao vídeo abaixo, de quando ele se apresentou na Vila Sésamo em 73. O outro, também muito bom, é a conversa em que Grover, personagem da Vila, pede que Stevie o ensine a cantar.


"Superstition" ao vivo no programa


Stevie conversando com Grover

15/10/2007

Quarenta e um graus


Me encanta a capacidade que as bandas suecas têm de tornar a vida um pouco mais colorida e bonita. Tudo de uma maneira simples. Eles não fazem muito esforço – parece ser natural colocar um sol não muito quente no céu quando eles bem entendem.

Long Gone Since Last Summer, segundo disco do Irene, carrega tantas vibrações boas que fica difícil ficar de mau humor depois de apreciar suas onze faixas. Eles continuam fazendo indie pop / twee, algo entre Jens Lekman, Suburban Kids With Biblical Names e Benni Hemm Hemm.

Exageros à parte, o álbum traz lindas faixas como “By Your Side”, que abre Long Gone Since Last Summer de maneira maravilhosa, como se o sol estivesse nascendo e aquecendo sua pele delicadamente. “Seaside” tem um naipe de metais certeiro e grudento – aliás, esse último adjetivo define bem o que você encontrará aqui: músicas que não saem da cabeça. “Out Of Tune” e “Little Lovin” vão deixar seu coração em pedaços. Mas a animação volta em “September Skies”, um twee feliz com cara de verão sueco. O disco termina com a triste “Last Forever”, dando a falsa impressão de que o Irene é uma banda meio pra baixo. O que é perfeito, já que quando você o coloca pra tocar outra vez, tudo volta a ficar ensolarado.

Em resumo, o segundo disco do Irene é pop e simples. Não é inovador, não é brilhante, não é surpreendente. Mas era tudo o que eu precisava ouvir nessa segunda-feira de volta a São Paulo.

09/10/2007

Poppies, poppies

Of Montreal
Coquelicot Asleep in the Poppies: A Variety of Whimsical Verse (2001)

Lançado em 2001, Coquelicot Asleep in the Poppies: A Variety of Whimsical Verse é uma obra complexa para a maioria dos ouvidos. As informações são muitas e levam algum tempo para serem digeridas e as influências vêm claramente do pop psicodélico dos anos 60. Adicione a isso o lado twee que mora no fundo do cérebro – ou no coração – de Kevin Barnes e sua vontade incontrolável de contar um monte de histórias e pronto, temos uma maravilhosa ópera-rock com uma hora e dez minutos de genialidade a serem descobertas a cada nova audição.

Não se deixe levar pelos novos álbuns do Of Montreal. Coquelicot Asleep in the Poppies é bem diferente do que a banda faz hoje. Apesar de gostar muito do Hissing Fauna, Are You the Destroyer? (o Sunlandic Twins eu considero um disco fraco em diversos aspectos), tenho muita saudade dessa fase, que considero o auge do grupo (Gay Parade, o disco anterior, é meu preferido).

Ouvir Coquelicot me leva a um mundo muito estranho. É um álbum que poderia facilmente ser trilha sonora de um desenho animado com milhares de cores e coisas acontecendo, daqueles que ninguém entende nada, embora faça todo o sentido.

As melodias complexas, construídas por dezenas de instrumentos e várias camadas de voz, trazem imagens à cabeça a todo o momento. A beleza do álbum está justamente em sua ambiguididade: simples em sua essência e carregando um lado infantil muito forte, Coquelicot é também denso e complicado.

Algumas faixas saltam aos ouvidos nas primeiras audições, como “Good Morning Mr. Edminton”, “Peacock Pasarols” e “A Dreamy Day of Dreaming of You”. Minha recomendação, entretanto, é a de que a obra deve ser apreciada na íntegra sempre, de preferência com fone de ouvido.

08/10/2007

Fiery Furnaces ao vivo

Amanhã é o dia de lançamento do Widow City (clique aqui para baixar), sexto disco do Fiery Furnaces (eu conto o EP como um). Mais uma vez eles me impressionaram. E fizeram isso aos pouquinhos, de novo. Tinha gostado do disco logo de cara, mas agora posso dizer que estou apaixonado por cada melodia ali. As histórias, as partes mais pesadas - principalmente as baterias -, o vocal doce e esquizofrênico da Eleanor, os mil teclados do Matthew, o lado pop, tudo faz muito sentido pra mim. Aí aparecem esses vídeos deles tocando ao vivo pra provar que os irmãos são doentes mentais, no bom sentido, e que o Fiery Furnaces é uma das minhas bandas do coração. Estou errado?


"Restorative Beer" (do Widow City)


"Ex-Guru" (do Widow City)


"Evergreen" (do EP)

04/10/2007

Unicorns Are People Too!

Eu me lembro a primeira vez que ouvi o Unicorns. Foi como se alguém tivesse dado um tiro na minha cabeça. Naquela época, descobrir o mix perfeito entre o esquisito, o pop e o despretensioso foi como salvar a Princesa Zelda do perigo iminente. Nunca soube dizer quais foram as influências deles. Até hoje não sei de onde o Nicholas Diamonds tira as idéias dele e, se alguém souber, faça o favor de me avisar, porque eu quero deixar anotado no meu caderninho. Depois veio o Islands e o Return To The Sea, mas isso fica pra um outro dia.

Sei que você provavelmente já ouviu o clássico Who Will Cut Our Hair When We're Gone? Se não, está perdendo o que talvez possa ser o melhor lançamento de 2003. O que talvez muitos ainda não ouviram são as primeiras coisas que o Unicorns gravou. As demos, assim como o primeiro álbum (Unicorns Are People Too), são impressionantes e quase tão necessários quanto o trabalho que já citei no começo do parágrafo. O lo-fi predomina, o lado pop está um pouco mais escondido, mas a genialidade das composições está lá, em cada detalhe.

Por isso posto aqui três docinhos: os bootlegs Three Inches of Blood e All Makes, Parts and Collisions e o primeiro álbum deles, o Unicorns Are People Too. Obrigatório para qualquer fã.

03/10/2007

Micro-cavalos da América do Norte

Acho que se você gostou do primeiro álbum do Band Of Horses, as chances de sentir o maior desprezo da história por Cease To Begin são pequenas. Micro-chances. O som da banda continua o mesmo em vários aspectos. Talvez as guitarras estejam um pouco mais pesadas. Ainda que falte um hit supremo como “Funeral”, a mistura de rock e country, que dá essa cara 100% americana à banda, sem dúvida continua funcionando muito bem. E, apesar de não ser tão marcante como Everything All The Time, esse segundo disco me conquistou aos poucos. Bem decente.

02/10/2007

O videoclipe do ano


Scout Niblett (com Will Oldham) - "Kiss"

Qualquer videoclipe com a atuação de Will Oldham é bom. Qualquer coisa, aliás. É só chamar ele. Tudo fica ainda melhor se a música for simplesmente perfeita, concorrente fácil a uma das melhores de 2007. Daí é só colocar umas fantasias de Haloween e pimba: você tem o clipe do ano em mãos. A roupa de esqueleto do Will, a dentadura da Scout e a cena dos dois se batendo no chão são algumas das evidências óbvias de que temos aqui uma obra-prima. Não. Tô brincando, faz o que vocês quiserem.

27/09/2007

Liars, Liars, Liars

Se você não gosta de Liars, você é um lixo. Um lixo cheio de cascas de ovo e de banana, misturado com carne podre e arroz velho. Como sempre costumo dizer, desde que começou, o Liars só lançou coisa boa. De verdade. Nunca sei o que esperar deles. Cada disco tem uma cara. Bem mais pop que seu antecessor, o álbum auto-intitulado desse ano é sensacional do começo ao fim. Uma gororoba com dezenas de gêneros e referências que funciona e que sempre me parece muito sincera. Quem gosta da banda e, principalmente, do disco mais recente, não pode deixar de baixar esse Radio Session. São quatro faixas com uma qualidade impecável de áudio, todas desse álbum. O que me faz lembrar da apresentação deles no Brasil, um misto de carnaval do inferno, hospício, sangue, suor e vigor que pegou todo mundo de surpresa.

18/09/2007

Pa-parara-parara-parararararara-parara!



Stevie Wonder é um mestre. Ele foi um músico impecável nos anos 70. Ainda hoje, poucos compõem como ele e pouquíssimos têm uma voz perfeita como aquela. Outro dia comprei o vinil do Hotter Than July (1980), considerado seu último bom disco. Mas nesse vídeo ele toca "Sir Duke", uma de suas melhores músicas, do Songs in the Key of Life (1976), pra mim seu melhor álbum.